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O grande diferencial dos microlotes


Foto: Divulgação Café Goulart

O simples fato de ser considerado especial leva a experiência sensorial e gustativa do café a novos e surpreendentes patamares, fazendo todo o diferencial para quem já aprecia a bebida. Agora, imagine se, além dessa qualidade que lhe é peculiar, ainda houver um diferencial. Imagine um produtor, em suas rondas diárias, perceber que em um certo talhão do cafezal há um sombreamento que protege um pouco mais o fruto do sol, ou um aclive que altera a altitude, um espaço em que o solo é mais úmido. Ou seja, com base em seus conhecimentos da matéria-prima, o produtor percebe que aquele café que cresce ali se diferencia dos demais. Pois é assim que se descobre um microlote, que são porções superexclusivas e limitadas, com procedências especiais.


A denominação de microlotes surgiu quando produtores observaram que determinados frutos de uma colheita apresentavam características distintas e superiores às dos demais, como aspecto mais atraente, maior concentração de açúcares e um nível específico de maturação.


O processo é semelhante ao do vinho, no qual as condições climáticas, o solo, a orientação solar e a altitude precisam ser levadas em consideração na hora de produzir uma matéria-prima de qualidade superior.


EXPERIÊNCIAS SELECIONADAS

Para Carolina Barreto, especialista em cafés e coordenadora da área de treinamento, operação e experiência de consumo do grupo 3Corações, os microlotes são grandes geradores de experiência. Ela acredita que esses grãos selecionados são uma oportunidade para o consumidor degustar cafés super-raros e complexos, com diferentes origens e perfis sensoriais. “Uma coisa muito legal do microlote é a valorização da cadeia como um todo. Quando você degusta esse café, sabe exatamente como ele foi produzido, quem é o produtor, quem torrou. A valorização do produtor é uma das coisas mais especiais que o microlote proporciona”, expõe.


Rafaela Ferreira, responsável pelo laboratório de qualidade da COOPFAM (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região), defende que todo o processo é importante para se chegar ao microlote. Na sua opinião, a complexidade e o equilíbrio são os fatores mais relevantes para a seleção. “Às vezes, o produtor tem um café muito bom; ele só não está conseguindo trabalhar o grão de uma forma legal. Então, damos toda a orientação para que ele descubra seu potencial e trabalhe em cima do melhor que consegue”, afirma.


Ivan Santana, do Café Goulart, produz cafés seletivos e em cada lavoura, em cada café, ele escolhe o momento exato para colher e a melhor maneira para secá-lo e descansá-lo. “Aqui na Fazenda Jangada, temos os cafés exclusivos do nanolote, que colhemos a dedo em uma média de um a 60 kg por vez. Normalmente, são cafés de notas sensoriais mais exóticas. Os microlotes também têm a colheita seletiva e os cafés quase sempre estão acima de 86 pontos. Conseguimos colher até 15 sacas, dependendo do período. Trabalhamos todos eles como se fossem um vinho único”, compara.


NANOLOTES

Os nanolotes são ainda mais raros que os microlotes e produzidos em pequena escala. Podem variar de dois quilos a uma saca (60 quilos) e são caracterizados por um pequeno grupo de plantas que alcançou uma incrível uniformidade no desenvolvimento. Geralmente, todo café colhido e beneficiado mantém o mesmo padrão de qualidade. Há um forte apelo de marketing para a propriedade, tendo em vista que podem ser comercializados como itens exclusivos. Alguns exageram no valor agregado e acabam afastando tanto compradores como consumidores, mas via de regra são muito bem aceitos e comercializados.


As análises dos microlotes e dos nanolotes são realizadas de acordo com a metodologia da Specialty Coffee Association of America (SCAA), determinando os critérios de doçura, limpeza, acidez e corpo da bebida. Após a avaliação, o café é pontuado, levando-se em consideração o peso específico de cada critério.

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