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Evolução e qualidade dos cafés da espécie Canéfora

Assim como a arte, o café de qualidade pede por composições mais abrangentes e complexas, repleta de sensações e uma diversidade que representa a personalidade e as riquezas da nossa terra. O vasto universo dos cafés é realmente fascinante, pois a variedade genética de grãos e de solos, formas de cultivo e produção, que só o Brasil tem, proporciona um riquíssimo leque de possibilidades para que consumidores de todo o planeta possam usufruir de múltiplas experiências sensoriais. Os cafés Canéforas vem se destacando cada vez mais, compondo sua própria orquestra de sabores e aromas que, puros ou combinados, vem surpreendendo os paladares mais exigentes.


A espécie Coffea Canephora é proveniente da África Ocidental e tem duas variedades: Robusta e Conilon. Apesar do seu grande potencial, nem sempre foi visto e valorizado, mas de três anos para cá, esse cenário passou por uma revolução e vem ganhando cada vez mais espaço nos mercados nacional e internacional, além do reconhecimento de coffee lovers e especialistas.


Até então, visto apenas para compor blends e cafés solúveis, agora faz parte de um ciclo de produção refinado e criterioso, do cultivo à xícara, apresentando uma nova paleta sensorial. Hoje, existe uma produção significativa de canéforas finos (termo equivalente aos arábicas especiais), com pontuação superior a 80 pontos. Já representam cerca de 40% da produção mundial e 20% da nacional, sendo Rondônia, Espírito Santo e Sul da Bahia as principais áreas de cultivo. O Brasil exporta, atualmente, Robustas e Conilons para a Europa e países como Estados Unidos, Rússia, Japão e Coreia do Sul.


Essa evolução é fruto da Ciência e do trabalho no campo, do empenho de pesquisadores e produtores rurais. “Após décadas de pesquisa da Embrapa, do INCAPER, de institutos federais e universidades foi comprovado cientificamente o valor, a qualidade e o potencial de evolução do canéfora, além do desenvolvimento de tecnologias que hoje estão sendo aplicadas no campo graças à difusão da informação, que transforma vidas”, observa Renata Silva, jornalista da Embrapa de Rondônia.


O pesquisador Enrique Alves, da mesma instituição, explica que esse processo começou a mudar em 2010, mas foi só em 2021 que ocorreram as primeiras indicações geográficas para cafés canéforas do mundo e a denominação de origem Matas de Rondônia, para os Robustas Amazônicos e o Espírito Santo com os Conilons Capixabas.

 

Processos e diversidade

O Espírito Santo produz cerca de 80% do conilon no Brasil e 20% no mundo. Guilherme Oliveira é produtor do Maritacas Coffee, vice-campeão do concurso de café natural da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), a maior de conilon no Brasil. O café natural é aquele cujo grão seca naturalmente, não passa pelo processo de fermentação e nem é despolpado. Guilherme pertence à terceira geração de uma família de cafeicultores, sendo ele o primeiro a produzir especiais. Empenhado não apenas na qualidade do produto que chega ao consumidor quanto na relação justa com os trabalhadores e o meio-ambiente, ele também se dedica ao reflorestamento de áreas. “Temos sempre que preocuparmos com as próximas gerações, inclusive com meu filho, que está crescendo e vai querer dar continuidade a este trabalho”, afirma o produtor, com ótimas expectativas para o futuro.


Os Robustas são produzidos na Amazônia por mais de 17 mil famílias que preservam a cultura dos povos indígenas e dos pioneiros mineiros, paulistas e paranaenses, promovendo um cultivo sustentável. “Nosso foco é qualidade, agregação de valor à região, toda a riqueza que a Amazônia produz em história, cultura, relevo, solo, entre outras”, salienta Renata Silva. Para o produtor do Café Canindé (Robusta Amazônico), Marcelo Lopes, esse foco em qualidade é resultado de uma série de fatores como investimentos em pesquisa, melhoramento genético, melhor manejo das lavouras e da colheita, indução de fermentação natural, aumento da demanda dos mercados interno e externo, entre outros.


Enrique Alves explica a complexidade da paleta sensorial dos Robustas e Conilons, que apresentam características botânica, agronômica, física, química e sensorial diferentes, proporcionando ampla riqueza de diversidades. Cada café tem uma nota sensorial, um sabor único, sua própria personalidade. “Os naturais são maravilhosos, mas os fermentados trouxeram ainda mais diversidade. Então, hoje, o consumidor pode escolher em uma paleta sensorial grande de cafés fermentados, que têm notas de nozes achocolatado, caramelo, despolpados e descascados, que é via úmida, que apresentam suavidade. E os cafés fermentados, que agregam acidez, aromas mais florais, frutados, licorosos na bebida”. É um parque de diversões para um barista e um cafezeiro ávidos por experiências novas.

 
Esperança e futuro

Segundo o pesquisador da Embrapa, a expectativa de crescimento e evolução dos canéforas é surpreendente e pode até representar uma solução para o futuro diante do aquecimento global, embora a Ciência já vem estudando novos cultivares. Resistente, capaz de prosperar em condições adversas, como climas quentes, além de possuir um grão de casca mais dura, tornando-a resistente às pragas, é uma espécie bem adaptável, o que representa também uma perspectiva de popularização de cafés de qualidade, tornando-os mais acessíveis. Também vale ressaltar que, diferente de outras culturas, o cultivo dos canéforas não concentra terras e possibilita a geração de renda para muitas famílias que também trabalham no reflorestamento e na regeneração do solo, na cura da terra. É a natureza entregando alimento para produtores e consumidores que reconhecem, respeitam e honram a terra.


O produtor Marcelo Lopes complementa dizendo que o mercado tende a evoluir e novas marcas de especiais vão surgir, exportando para o mundo cafés de qualidade em quantidade e regularidade: “Nossa região tem muitas áreas ‘abertas’, que não necessitam de desflorestar mais, e sim aproveitar e recuperar as que estão sob outras culturas, além da diversificação dessas”.


Temos um futuro grandioso. Embora já tenhamos um cenário nacional e internacional de canéforas muito positivo, novos caminhos se abrirão na cadeia de produção e transformação, trazendo perspectivas altamente positivas para produtores, consumidores e meio ambiente.

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