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Cafés das regiões de Manhuaçu e Alto Caparaó se destacam cada vez mais no Brasil e no mundo


Foto: Fabiano Diniz

Os cafés das Matas de Minas sempre se destacam pela qualidade e por constantes premiações em concursos. Em especial os de Manhuaçu, Alto Caparaó, Manhumirim e Alto Jequitibá. O que antes era chamado de Zona da Mata Mineira, com seus 148 municípios, produz café em 124 deles, o que corresponde a aproximadamente 25% do estado, que é o maior produtor de café do mundo. Por isso, a região é considerada a segunda em produção de café de Minas, onde predomina a agricultura familiar, com área média de 5,0 hectares por unidade rural. Nossa equipe percorreu as estradas da região para conhecer propriedades em cinco cidades e entender tudo isso de perto. Foi uma experiência fantástica, e entendemos melhor por que os cafés estão tão renomados.


A Prefeitura Municipal de Manhuaçu, cidade localizada a 290 km de Belo Horizonte, apontou que o município possuía cerca de 20 mil hectares com lavouras de café, em 2015, sendo 17 mil de área em produção e 3.570 hectares com pés de café em formação, dentro do processo de renovação da lavoura. Certamente, esse número pode ter sofrido algumas alterações, mas serve bem como parâmetro da importância do café para a cidade.


O cafeicultor e proprietário da Fazenda Alto da Serra, Fabiano Diniz, afirma que a região realmente tem sido privilegiada pelo terroir que possui “e diferenciada pelo microclima de cada propriedade, os quais nos proporcionam aromas e sabores únicos e recém-explorados com enorme potencial, sendo basicamente 'naturalmente artesanal', que é o lema que cada família leva adiante”.


Jaqueline Dornelas é proprietária da Ruralmac, uma empresa de fabricação, manutenção e customização de torradores de café, em Manhuaçu. Ela conta que toda a região é muito promissora no que diz respeito ao café e que isso tem atraído muitas pessoas que procuram esse tipo de viagem para conhecer os processos nas fazendas: “Os profissionais do segmento estão mais envolvidos e procurando cada vez mais qualidade. Consequentemente, teremos um grande aumento também do turismo na região. Novas rotas serão criadas e descobertas, enquanto as já existentes estão se atualizando”.

Foto: Haline Burmann

Mas, para isso, é preciso que muitos processos ainda sejam melhorados e haja mais consciência e preparo dos produtores. A classificadora e degustadora de cafés especiais e proprietária da FranCoffee Speciality, Francielle Oliveira, diz faltar mais interesse e conhecimento do produtor para aprender melhor sobre tudo que seu café pode oferecer.


“Temos aqui cafés extraordinários que me surpreendem com tanto potencial, mas muitos produtores de Manhuaçu nem sempre percebem que profissionais como coffee hunters e provadores, dentre outros, querem ajudar na melhoria da qualidade dos seus produtos. Só depois que comecei a trabalhar como corretora de café foi que pude perceber a importância em ajudar o produtor a conhecer melhor o potencial do seu café e inseri-lo nesse mercado que será cada vez mais promissor”, relata. Ela completa dizendo que em Alto Caparaó os produtores já estão mais atentos, abertos a parcerias e buscando cada vez mais um mercado de qualidade.


ALTO CAPARAÓ

Os cafés de Alto Caparaó, região mais fria das Matas de Minas e bem próxima ao Pico da Bandeira, se destacam pelos constantes prêmios conquistados por seus cafés de excelente qualidade. A altitude média das fazendas é de 1.300 metros. O relevo contribui consideravelmente para a grande produção na região, que tem como característica predominante colinas e vales estreitos com algumas serras.


O produtor da Fazenda Ninho da Águia, Clayton Barrosa Monteiro, é considerado o pioneiro a levar visibilidade à região com cafés de alta qualidade e um processo de excelência no cultivo dos especiais. Ele comenta que o Alto Caparaó vem mostrando algo muito importante, que é a consistência dos cafés especiais: “São vários prêmios desde 2012, além do charme de estar em torno do Parque Nacional do Caparaó. Se trabalharmos certinho, teremos várias marcas renomadas. Aqui tem tudo para ser um dos lugares mais legais do mundo para se tomar um café, ainda mais com toda a vocação do turismo rural e ecológico andando juntos e o café fazendo esse cinturão verde em torno do Parque”.


A Fazenda Ninho da Águia recebe visitantes de vários países e realiza um trabalho de educação e informação sobre todo o processo da cadeia produtiva. “A ideia é que cada visitante saia daqui conhecendo os processos e seja um futuro consumidor de café especial. Porém, o mais importante é conectar o consumidor final com o produtor, já que a indústria deixou isso numa distância muito grande. Por isso, é tão importante os produtores se conectarem e se prepararem melhor”, observa Clayton.


QUESTÕES ESTRUTURAIS

Outro trabalho que se destaca muito e fizemos questão de conhecer é o do Recanto dos Tucanos, que, além de uma localização privilegiada e uma vista fantástica, tem o trabalho focado em cafés especiais agroflorestais e sintrópicos (tema da nossa próxima edição). A agricultora Maria Aparecida Rodrigues Valério sabe que os cafés da região têm muito potencial e terão por bastante tempo. Assim, deveria haver um ponto de apoio para os produtores exporem seus produtos. “Isso ampliaria a visibilidade dos cafés incríveis que temos aqui. Também precisamos de apoio dos nossos governantes para melhorar nossas estradas. Do que adianta ter cafés premiados e de excelência, tendo já ganhado como o melhor do Brasil, e que leva o nome da região, se não temos uma estrada boa para o turista visitar as localidades e conhecer as rotas do café?”, questiona.

Foto: Haline Burmann

A proprietária do Sítio Pé de Breu, Wildma Emediato Abreu, lembra que a pandemia mostrou outras possibilidades para a região: “As questões turísticas vão além das cachoeiras e do Parque, e percebo pessoas saindo de BH, Rio e São Paulo para fazer o turismo no café. E é um caminho sem volta e que inclui os jovens. Eles estão cada vez mais interessados em saber de onde vem o alimento que consomem”, destaca. E finaliza: “Nosso potencial para o café é muito grande, mas já não espero nada do Governo, embora fosse muito importante que ele percebesse pelo menos um pouco do que está acontecendo aqui. Mas que ao menos mantenha nossas estradas com mais qualidade”.


Assim encerramos nossa incrível imersão nas cidades, tendo conversado ainda com mais pessoas e famílias, como o Sítio Império da Serra, em Alto Jequitibá; e com cafeterias incríveis, como Coffee Grip, Sim Café, Afir e La Vie, cada uma com uma experiência fantástica e sempre valorizando os cafés locais; além de uma visita imperdível ao conhecido Castelo do Café, em Manhuaçu.


Ficamos de voltar para visitar outras propriedades e retomar conversas com algumas das que visitamos e onde fomos tão bem recebidos com bolos, tortas, quitutes e muitos bons cafés de qualidade.

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