Com o fechamento de cafés e escritórios em todo o mundo devido à pandemia, o mercado global de grãos temia um 2020 especialmente complicado. Mas os grandes produtores salvaram o ano com uma receita de blend: combinação de preços, safras recordes e consumo alternativo nas famílias.
“2020 foi particularmente bom para o Brasil, mas não tão bom para os outros países em termos de produção”, explicou Carlos Mera, analista do RaboBank em Londres. O maior produtor mundial comemorou safra recorde no ano passado: 63,08 milhões de sacas de 60 kg, 27% a mais que em 2019, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O tempo seco reduziu a produção para 29 milhões de sacas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. A Colômbia também diminuiu sua produção em 6% em 2020, com 13,9 milhões de sacas, segundo a Federação Nacional dos Cafeicultores. Além disso, o mundo produziu 0,9% menos café em 2019/2020 em relação ao período anterior.
Melhor preço
Com as restrições que se seguiram à pandemia, o consumo e as exportações foram abalados. A renda dos cafeicultores variava em cada país de acordo com a estabilidade de suas moedas em relação ao dólar, bem como com a qualidade e a quantidade de suas safras. O Brasil levantou a taça alto. Soma-se à sua produção volumosa a desvalorização de 29% do Real em relação ao dólar.
Na Colômbia, cerca de 540 mil famílias cafeeiras sentiram alívio graças também à desvalorização de sua moeda (4,7%). O valor da safra ficou em torno de 2,6 bilhões de dólares, "o maior dos últimos 20 anos" levando-se em conta a inflação, disse um funcionário da federação.
As Bolsas de Valores de Nova York e Londres negociam contratos "futuros", com estimativas do preço do café, para proteger comprador e vendedor de oscilações, assim que a carga chegar ao seu destino ou encontrar um cliente.
Consumo e perspectivas
O café também teve que ser confinado pelo isolamento social. O consumo saiu das lojas para as residências. Embora as restrições afetassem a movimentação nos portos, o consumo sofreu menos do que o esperado (-2,4%), apesar de ter ficado abaixo da produção pelo terceiro ano consecutivo.
Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o mundo arrecadou 168,68 milhões de sacas no período 2019/2020, enquanto o consumo foi de 164,53 milhões. Embora a demanda deva se recuperar, um aumento de 1,9% na produção mundial causará um superávit de 5,27 milhões de sacas em 2020/2021, acrescentou a entidade.
As informações são da AFP / Tradução Juliana Santin
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