Relatório traça retrato do mercado cafeeiro no Brasil e as tendências mundiais
O mundo vai consumir cada vez mais café nos próximos anos, e o Brasil, que já atende a 35% da demanda mundial, terá uma participação cada vez maior neste mercado. É o que indica o Relatório sobre o Mercado Cafeeiro, divulgado pela Organização Internacional do Café (OIC).
Os dados mostram que no ano passado a produção mundial de café chegou a 168 milhões de sacas, um crescimento de 2,5% em apenas um ano. Os dados revelam que além do Brasil, a produção continua alta no Vietnã, país que atende 18% do mercado internacional; na Colômbia, que responde por 9% do suprimento mundial; Indonésia (6%), Etiópia (5%), Honduras (5%) e Índia (3%).
Se a produção cresceu, o consumo não ficou para trás. No ano passado, 98% das sacas produzidas foram consumidas, cerca de 165 milhões, um aumento de 2,1% em relação a 2017. O consumo continua crescente tanto dentro dos polos exportadores, como o Brasil, quanto naqueles que importam café, principalmente nos países da África e da Ásia, onde o consumo pode crescer até 18% este ano.
Um conjunto de fatores tem impulsionado o consumo da bebida. Pesquisas recentes, coordenadas por agências ligadas à Organização Mundial da Saúde (OMS) vêm mostrando que o café pode beneficiar a saúde ao auxiliar no combate as doenças cardiovasculares ou digestivas. Outra pesquisa apontou que a bebida favorece a longevidade. Muitos países também passaram a incentivar o cultivo do café a partir de novas técnicas de produção. E, por fim, existe ainda um motivo natural e básico: o simples prazer de beber uma boa xícara de café.
Em busca do equilíbrio
O crescimento do consumo não significou o aumento dos preços, pelo contrário. Com a produção em alta e um excedente de 2,29 milhões de sacas, as cotações vêm caindo de forma seguida no mercado. Os preços registraram queda de 20% nas principais bolsas internacionais.
Os especialistas preveem que o superávit deve continuar pressionando os preços para baixo nos próximos dois anos. Um estudo realizado pelos consultores do Itaú BBA, braço de investimentos do conglomerado Itaú, aponta que não deve haver altas significativas de preços a médio prazo.
O levantamento destaca que os principais países consumidores, que são Japão, Estados Unidos e países europeus, estão bem abastecidos, e que os níveis atuais de estoques vão continuar implicando em baixas margens operacionais de preço para os produtores rurais.
Produtores reclamam
Os baixos preços do café nas bolsas internacionais têm sido um problema para os produtores rurais do mundo inteiro. Na Bahia não é diferente. A negociação da commodity é realizada por operadores que atuam no Mercado de Café da Bolsa de Nova York, e por poucos grandes compradores, que determinam as normas de mercado. Sem poder de decisão sobre o preço, os cafeicultores acabam ficando com menos de 30% do valor da produção.
“O produtor rural está fragilizado por uma sequência de desvantagens. A produção vai continuar elevada, mas o agricultor não consegue ter acesso a este crescimento. Essas questões preocupam muito", diz oão Lopes Araújo, presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia (Assocafé). "Nós vamos ter que traçar alguns planos com o novo governo brasileiro para melhorar a renda de quem produz no campo. Conversas já estão sendo travadas com o Ministério da Agricultura. Por enquanto o aumento do consumo é bom para todos, menos para o produtor”, completa.
Bahia
Se os preços de venda preocupam, a boa notícia é que os principais polos cafeeiros da Bahia devem continuar registrando ótimas safras, apesar da seca que ainda afeta alguns municípios do semiárido, na chamada área do planalto.
Depois de ter atingido no ano passado a maior média de produtividade dos últimos anos, cerca de 35 sacas por hectare, com um volume total de 4,55 milhões de sacas, a Bahia vem se destacado no setor. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o uso de tecnologia de irrigação e manejo de lavoura fizeram a diferença neste resultado, e consolidaram o estado no quarto lugar do ranking entre os maiores produtores do Brasil.
A receita bruta da lavoura baiana alcançou R$ 1,6 bilhão de reais, sendo cerca de 190 milhões de reais apenas com as exportações.
Os dados da Conab apontam como vantagem o fato do estado possuir três regiões produtoras. Cerca de 11% do volume são produzidos no cerrado, 30% no planalto e 59% na área atlântica do sul da Bahia.
Alternativas
Para os representantes do setor na Bahia, a produção de cafés especiais, deve continuar sendo um diferencial.
“O café gourmet, especial, continuará sendo um filão vantajoso no mercado para o produtor se beneficiar e ganhar alguma coisa. A participação ainda é pequena no volume de mercado, mas este é o caminho. Não tem mais margem de lucro vender como commodity”, analisa João Lopes.
Os cafés especiais exigem mais tempo e manejo diferenciado na produção do café, mas chegam a triplicar a renda do produtor rural, que consegue vender um quilo de café por até R$ 80 reais.
Em 2018, os cafés diferenciados, considerados especiais por ter qualidade superior ou algum tipo de certificado de práticas sustentáveis, somaram 6,2 milhões de sacas nas exportações brasileiras, um volume 21% maior do que no ano anterior. Somados aos cafés commodity, o volume de exportações atingiu 35,2 milhões de sacas, com receita cambial de US$ 5,1 bilhões de dólares.
O desafio dos produtores rurais é equilibrar esta balança, para conseguir melhores preços de venda, sem afugentar os consumidores.
Fonte: Correio24horas
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