De Starbucks a Nespresso, os consumidores pagam cada vez mais caro pelo café, enquanto produtores recebem cada vez menos dinheiro, em um contexto de queda dos preços internacionais.
Devido à queda do preço do café, que atingiu seu nível mais baixo nos últimos 12 anos, uma crise paira sobre os produtores de café, como Colômbia, Brasil e Peru, apesar do sucesso das cápsulas individuais nos países ocidentais. É o que indica um estudo publicado no dia 1º de outubro, no Dia Internacional do Café.
O preço do quintal de café caiu abaixo dos 100 dólares em meados de setembro, “um nível extremamente baixo com o qual produtores não podem viver”, indica Christophe Eberhart, fundador da cooperativa francesa Ethicable, especialista na importação de café de comércio justo.
As associações de comércio pedem à Organização Internacional do Café (OIC) que se instaure uma regulamentação para ajudar os países produtores, aponta Blaise Desbordes, diretor-geral da Max Havelaar France, principal organismo certificador de comércio justo.
Dualidade café-coca
Com os novos modos de consumo, sobretudo a aparição das cápsulas individuais, “as pessoas não se dão conta de que pagam muito mais por seu café“, explica Christophe Alliot, cofundador da Basic e autor do estudo.
Enquanto um café arábica moído de 250 gramas custa em média três euros na França (12 euros o quilo), em cápsulas individuais o quilo sai por 50 a 60 euros, segundo o mesmo estudo.
Mesmo se você adicionar 10 a 15 euros para a embalagem, “cerca de metade do preço das cápsulas não tem explicação”, estima Alliot. Uma diferença “que não é nada repassada aos produtores”, denuncia.
Para este estudo, existem três problemas: concentração entre torrefadores, já que três deles – Nestlé, JDE e Lavazza – controlam 81% do mercado mundial de café; o peso dos grandes negociadores, como Neumann, Ecom, Olam, Louis Dreyfus ou Volcafé; e a precariedade dos produtores.
No Peru ou na Etiópia, os produtores de café em 2017 cobraram “20% a menos do que em 2005”, segundo o estudo.
No Peru, onde entre 25% e 30% do mercado são compostos de cooperativas de comércio justo que garantem um preço mínimo aos produtores para que possam viver adequadamente, os demais “70% do mercado funcionam através de grandes empresários que têm poder desproporcional”, diz Alliot.
“Quando os preços estão baixos demais, os agricultores não podem mais manter seus sistemas agroflorestais e, se abandonarem suas práticas, as plantações entram em colapso”, diz Eberhard.
“No Peru, o maior produtor de coca do mundo, existe uma dualidade real entre café e coca: a queda no preço do café alimenta a atração pela coca”, alerta Eberhard, lembrando que a produção de coca aumentou quando o café entrou em colapso em 1989.
Fonte: Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e Zero Hora.
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